Todos os devaneios publicados ou não neste blog são dedicados a qualquer pessoa que ja sentiu pelo menos 1 ( um ) dos sentimentos mais desprezíveis dos seres humanos, ódio, inveja, saudade, solidão, arrependimento, amor. Especialmente os Ansiosos, Lunáticos, Excêntricos, Maniacos, Depressivos, com desturbios de sono, escritores, Fumantes, Alcoolatras, Maconheiros, Bipolares, que tem medo de pessoas, quem tem medo de morrer sozinho, que tem medo de amar , que tem medo de sí mesmo.

Vejo cada uma dessas pessoas passando por mim todos os dias nas ruas, na minha casa, no meu convívio, no espelho.

Essas são suas histórias, mentiras, e devaneios. Algumas ruins de se ler, outras chocantes demais para serem esquecidas.

Os Monólogos da Existência servem justamente para isso, abrir os olhos de quem cansou de deixar cegar-se, alimentar a busca da verdade e quem sabe provar que a esperança não é a ultima que morre... A Realidade ainda está pra chegar.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Solstício de Inverno.

São 4 e 25 da manhã e eu acabo de acordar de um pesadelo. Sonhei que um amigo meu matava uma mulher descarregando seu .38 sem dó nem piedade só porque ela disse que ele era nojento. Faz frio e também não é a toa, apesar de o inverno começar hoje, em Goiânia está aquela temperatura de costume desde quando começa junho. Quem mora aqui sabe do que eu estou falando, 14 °C de manhã, 30 °C de tarde e uns 10 °C a noite.

Mas hoje a noite estava especialmente fria. Acordo do pesadelo ainda assustado, mas sem levantar grandes suspeitas porque se alguém ou algo estiver olhando não vai poder se divertir com o medo estampado na minha cara. Os ossos doem, as pontas dos dedos ficam espetando e a sede, puta que pariu que sede! Deveria ter tomado água assim que cheguei em casa mas eu ainda estava com o gosto do cigarro (não eram os Camels de costume) na boca e meu corpo se manifestava muito cansado depois daquela (finalmente) boa noite de sexo. Me levantei sentindo dores no corpo inteiro e foi aí que eu lembrei que estava todo mordido, todo dolorido e um pouco humilhado. Ultimamente tenho andado numa onda de bom humor e por mais que isso pareça esquisito é justamente agora que eu me sinto o mais incompleto possível, sem rumo, mas com um estranho sentimento de que está tudo bem que tudo vai dar certo mesmo sabendo lá no fundo que tudo daqui a pouco vai piorar como sempre piora. Até sorrir honestamente eu ando sorrindo, um animal domado sem os colhões. A mulher que estava comigo ontem discorda, ela diz que isso é sinal do meu amadurecimento já que eu tenho 21 anos e isso já estava passando da hora de chegar. Mas uma noite atrás, enquanto as pessoas bebiam, bagunçavam e chamavam outras pessoas que eu não conheço e não tinha a menor vontade de conhecer para beber e bagunçar na minha casa, essa mesma mulher conversava comigo sobre outros assuntos. Dizia ela que gostaria de me conhecer de verdade, quem eu realmente sou, fora da máscara do garoto que teve uma infância de merda, uma pré-adolescência duvidosa e não pegava mulher nenhuma durante o ensino médio, apenas o cara de verdade com todos os defeitos e qualidades. E então eu chorei. Percebi que tudo aquilo que eu sou é uma puta de uma máscara gigantesca, para minha família, para meus amigos, para minha mulher, para mim mesmo. Percebi que meus escudos são tão falhos quanto a minha timidez e meus ideais, eu vi que sou apenas um conjunto de muros e mais muros tentando manter tudo e todos longe do meu ponto fraco. Conclusão? Não me lembro mais de quem eu realmente sou, ou era, agora eu só consigo ser assim, frio (nem tanto) como o frio do dia 21 de junho que me dá pesadelos na madrugada de Goiânia, amargo, sistemático, alcoólatra e viciado em uma variedade de drogas lícitas e ilícitas todas diferentes. Não me lembro nem mesmo se eu tenho um ponto fraco ou dois ou dez. Eu apenas vou acendendo um cigarro, e outro, e mais outro esperando o próximo dia chegar com a próxima noite que vem antecipando o próximo dia enquanto cortam mais ainda meus colhões e eu construo mais muros para afastar mais ainda o resto de todo o mundo. Depois desse pesadelo que tive acordei muito diferente. Enrugava a testa e fazia cara de desinteresse, fui cumprir meu aviso prévio sem arrumar o cabelo e sem tomar banho, senti uma vontade do caralho de tomar um gole de cerveja, aquela onde de bom humor havia passado e estava começando a me sentir normal de novo. Saí andando pela cidade e perdi totalmente a noção do tempo enquanto dirigia no trânsito caótico. No carro o tocador de cd havia travado então a única coisa que tinha para escutar era a rádio, “Executiva FM, a rádio que é como você ouvinte, tem muito bom gosto”, e nessa rádio de muito bom gosto começou a tocar um samba, não era Chico mas era bom ainda assim. Como se fosse um tiro senti vontade de pela primeira vez na vida sentar em um bar e beber sozinho, plena 8:30 A.M assim como os cachaceiros fétidos que bebem ate as 9 e chegam em casa para bater no filho e matar a mulher. E foi exatamente isso que eu fiz, procurei um boteco que não cheirasse a urina, me sentei numa mesa afastada e pedi uma dose de Seleta pra acompanhar a Brahma gelada. Eis que então um rapaz de terno e bíblia no braço se senta na minha mesa (começou errado) e me pergunta:

- O senhor acredita no grande salvador Jesus Cristo ?

(errou de novo)

- Olha, pra começo de conversa eu não te chamei pra sentar na minha mesa. – Abri a carteira de Camel acendi e soprei a fumaça na cara dele – Segundo, sua mãe nunca te ensinou que você primeiro deve se apresentar? Ou então ela nunca te ensinou a não conversar com estranhos? E o que te interessa se eu acredito ou não em Jesus? Até onde eu sei se ele existe não ta fazendo um bom trabalho com você, ou comigo.

- Me desculpe – disse o rapaz – meu nome é André Luiz e eu gostaria de dizer que Jesus morreu por você.

- Muito bem, meu nome é Judas! Agora, ta vendo aquele carro ali parado no sinaleiro? Tem uma velha dirigindo, vai encher o saco dela porque aquela lá precisa de salvação mesmo, já passou do Cabo da boa esperança.

- Mas ELE revelou a mim que eu preciso falar com você. Você parece estar sofrendo e Ele pode curar o seu sofrimento!

- É mesmo? Então já que ele cura sofrimentos você não vai se importar de eu enfiar esse copo no seu nariz.

Peguei o copo de cerveja e arremessei no rosto do cara. Pegou em cheio! Peguei a garrafa e quebrei na nuca dele, desmaiou.

Levantei-me e saí andando, paguei a conta e ninguém quis tirar satisfação.

Fazia tempo que eu não era tomado por esses momentos de fúria repentina, coisa que você não consegue controlar o seu corpo e quando viu já fez merda mas porra, tudo o que eu queria era tomar aquela maldita cerveja em paz, o rapaz estava no lugar errado hora errada, ou então realmente Deus queria que ele falasse algo comigo... Se esse for o caso então já era. São 11h52min A.M e está chegando a hora de almoçar. Vou me sentar num restaurante “boca de porco” e esperar que Ele me puna com uma puta duma diarréia, e esperar que chegue outro momento de alegria só pra vê-lo acabar em tristeza e raiva no equinócio de Primavera, e que linda primavera é a Primavera de Goiânia.

Um comentário:

  1. Lucas Bitencourt em: Um Dia de Fúria.

    Texto legal, cara. Desabafo, sem respirar e pronta pra explodir a qualquer momento. Massa demais!

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