Todos os devaneios publicados ou não neste blog são dedicados a qualquer pessoa que ja sentiu pelo menos 1 ( um ) dos sentimentos mais desprezíveis dos seres humanos, ódio, inveja, saudade, solidão, arrependimento, amor. Especialmente os Ansiosos, Lunáticos, Excêntricos, Maniacos, Depressivos, com desturbios de sono, escritores, Fumantes, Alcoolatras, Maconheiros, Bipolares, que tem medo de pessoas, quem tem medo de morrer sozinho, que tem medo de amar , que tem medo de sí mesmo.

Vejo cada uma dessas pessoas passando por mim todos os dias nas ruas, na minha casa, no meu convívio, no espelho.

Essas são suas histórias, mentiras, e devaneios. Algumas ruins de se ler, outras chocantes demais para serem esquecidas.

Os Monólogos da Existência servem justamente para isso, abrir os olhos de quem cansou de deixar cegar-se, alimentar a busca da verdade e quem sabe provar que a esperança não é a ultima que morre... A Realidade ainda está pra chegar.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Francesco Manzanno, o que você pensa sobre Realidade?

Um sinal de trânsito indo para a pecuária de Goiânia em 1993. Essa é a minha primeira lembrança. Seria uma primeira lembrança muito estúpida não fosse pelo fato de que em vez de verde, o lugar destinado a ligar a luz do “siga” piscava a cor azul. Lá estava eu , cinco ou seis anos de idade indo com minha mãe e meu padrasto ver o show do Zezé di Camargo e Luciano, um estouro na época. Não sei por que isso me veio a cabeça ontem enquanto quase desmaiava dirigindo o carro tentando voltar pra casa, mas eu sei que foi exatamente nesse dia que eu comecei a perder meu senso de realidade. Na adolescência lembro que o “grupinho de amigos” com quem eu andava tinha esse esconderijo no terraço do prédio onde morávamos. Todos os dias eu sentava no “caiu morreu” e ficava apreciando a paisagem da cidade. Sentava-me lá e ficava o dia inteiro olhando a merda da cidade. Levantava, descia para o telhado da cobertura e ia andando apenas com o apoio da parede que estava na minha frente e ficava com 1 pé em cima do telhado, o outro dependurado com o apoio de 11 andares de gravidade. Nunca caí, como deu para perceber, ou então eu realmente caí mas ainda não percebí. Também nunca fui pego por carro nenhum enquanto brincava de travessia perigosa na t-63. Ontem eu estava em cima de outro prédio apreciando novamente a cidade. A poluição deixando um efeito visual maravilhoso, criando um dégradé onde o sol morrendo inicia a noite com o laranja, passando para rosa quando se junta com o branco da poluição, ficando roxo, azul, preto e aí você finalmente avista algumas estrelas mais fortes. Olhei os prédios em volta e senti um medo que me espancou de forma brutal. Tive medo de cair e não senti a mínima vontade de me sentar perto do “precipício” do prédio. Quanto ao meu senso de realidade, as coisas pioraram quando fui assistir Matrix pela 10ª vez ( já tinha 12 anos de idade) e comecei realmente a pensar que eu poderia estar conectado a máquinas no futuro e minha vida é toda ilusória. Porra, isso fazia um puta dum sentido! Eu nunca tinha me adaptado a porra nenhuma mesmo, eu digo, posso sentir o toque posso sentir o gosto, o cheiro, amor, ódio, dor, prazer, ver, respirar, mas isso é tudo informação que o meu cérebro interpreta pra mim. Na verdade eu sou apenas o meu cérebro e o meu corpo é o que faz ele poder continuar a funcionar. Agora tudo fazia sentido e eu consegui seguir por mais uns 5 anos sem entrar em crise quando começava a conversar comigo mesmo. Alguma hora alguém ia me tirar dessa bosta e aí todo mundo ia ver quem eu era de verdade! Mas um dia esse amigo meu disse que essa coisa de Matrix era tirada de uma bosta escrita por Sócrates ou Platão ou um filosofo grego qualquer (nada contra o pessoal da filosofia claro) e que a muito tempo já tinham provado que nada disso existia. E alguém sempre volta e fala :
- Eu penso, logo existo... Mas até onde eu sei você pode ser uma pessoa criada pela minha mente.
E o idiota que está do lado vira e pensa:
- Filho da puta pretensioso, além de ser criação da minha cabeça ainda acha que ele é importante o bastante pra questionar se eu existo ou não...

Por isso que a teoria mais sensata que eu já ouvi foi a de um andarilho que comia cogumelo e tomava chá de trombeta em ocasiões especiais:
- Bixo, a vida é o seguinte – Olhava o céu, passava a mão na grama e voltava – existem umas poucas pessoas de verdade no mundo, e o mundo é de um jeito pra cada um. Só que todo mundo é doido, todo mundo é doente da cabeça. Os mais fracos tão morrendo de doença que a cabeça cria, enfartam com estresse e preocupações. Os mais fortes estão escravos da sua própria loucura e da loucura dos mais fracos que cercam ele. Todos com a mesma doença mental que vem geneticamente desde quando a gente surgiu Bixo! Agora os outros 5 bilhões são tudo coisa da sua cabeça ! Mas eu sei que você existe entende? Agora o monte de gente que passa aqui pelo centro da cidade e desaparece virando a esquina eu sei que é só ilusão. São os figurantes da sua loucura bixo. Os figurantes da história da sua vida.

E assim continua a “história da minha vida” e a história da sua vida, de forma desastrosamente desajeitada e desorganizada, aonde pessoas vem e vão e voltam. Onde pessoas acham tempo para brincar com outras pessoas, para matar outras pessoas, para construir e destruir relacionamentos, fazer um ou dois filhos e adotar outro quem sabe. Até que todos possamos seguir rumo para o local que sabemos desde o começo para onde iríamos: Embaixo da terra ou dentro do forno. Mas que grande alívio não? Sair dessa pocilga nojenta atolada da mesma merda ensacada que vem dentro da cabeça e do coração de cada pedaço de carne andante que se vê por aí nesses dias. Eu sou um dos piores, mas agora nesse exato momento eu ainda consigo me sentir o melhor de todos.
Depois dessa conversa que tive com aquele Andarilho pouca coisa mudou na minha vida. Resolvi apenas deixar as coisas acontecerem sendo realidade virtual ou não, sentindo de verdade ou não, fingindo ou não fingindo. É só fazer tudo o que você já sabe e se não sabe é só copiar da pessoa mais filha da puta que estiver por perto. Não se iluda. Meu medo cresceu em proporções gigantescas, me fez começar a pensar no amanhã, procurar um médico para me consultar sobre as dores, a procurar um trabalho que pague pouco e explore muito. No Final das contas? O Sistema, a vida, a loucura, as pessoas, eu mesmo, a matrix, as 5 vezes que morri e não percebi, as vozes que não param na minha cabeça, as pessoas que me rodeiam de noite para não me deixar dormir, a insônia, a música, o calor, o frio, o sexo, o amor, o ódio, o remorso, a tristeza, a alegria, a doença, e até que a morte os separe, pegaram meus colhões e espremeram, me transformando numa porra de monte de carne sem espírito, com razão o suficiente para saber que é pouca coisa para questionar a existência ou não de Deus, mas burro o suficiente para terminar esse texto, pedir desculpas, e comprar mais uma carteira de Camel.

4 comentários:

  1. Essa é sua realidade, cara. Independente do que ela signifique para o todo.
    As vezes eu me pergunto se você escreve esses textos extremamente chapado ou extremamente sóbrio e consciente da sua realidade.
    Parabéns, cara.

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  2. a poir coisa q um deprimido pode ouvir é q ele ainda viverá por muitos anos. não sei o q tem a ver com o post, mas pensei nisso agora.

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  3. Excelente texto, ainda nao consigo formular nenhum comentário concreto, talvez depois de uma digestão apropriada do seu escrito eu consiga, parabéns.

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  4. sem dúvidas é um dos meus favoritos.♥

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